Todo mundo já sentiu vontade de acampar... pelo menos uma vez na vida...
Depois que me convenci que acampar não seria tão
terrível assim, tive que convencer a minha esposa, e para convencê-la usei o
argumento que um acampamento seria uma ótima diversão para o meu filho Lucas
que é apaixonado pela natureza.
Depois de todos decididos e empolgados tínhamos que
definir o lugar... Acampar a onde?
Até hoje não sei o motivo de não ter usado a
internet para pesquisar um lugar para o acampamento. Foi uma amiga da família
que trabalha com turismo que sugeriu e indicou um camping em Trindade. Ela já
havia acampado em Trindade e disse que o local era paradisíaco. Pronto! Já tínhamos
o local, Trindade.
Agora faltava a barraca. Temos uma conhecida que
trabalhava em uma famosa empresa de produtos náuticos, pedimos que ela
indicasse um local para comprarmos uma barraca mais em conta, mas ela sugeriu:
_É o primeiro acampamento de vocês, e se vocês não
gostarem da experiência? Vão fazer o que com a barraca? Eu tenho uma barraca
para seis pessoas novinha, eu empresto para vocês e se gostarem da experiência
de acampar, depois vocês comprão uma barraca para vocês.
Pronto! Já tínhamos o local e uma barraca.
27 de Dezembro de 2012...Chegou o dia..HU HUUU!!!
Arrumei as tralhas no carro e partimos com destino
a Trindade, eu minha esposa e meu filho.
Chegando a Ubatuba a paisagem já começa a ficar exuberante.
Naquele dia o sol estava maravilhoso, o dia estava lindo.
Chegamos ao camping por voltas das 10:00hs da
manhã. O senhor que nos recepcionou foi extremamente simpático.
O camping em si não parecia com nada com o que nós
havíamos imaginado, mas a beleza da natureza ao redor era magnífica.
O camping era uma área equivalente a um
quarteirão, todo gramado e com várias árvores. Tinha quatro banheiros bem
simples e uma área coberta que funcionava como cozinha e que mais parecia um
barraco tailandês atingido por um tsunami. Como não pretendíamos comer no
camping, não demos muita importância.
Até então estava tudo como o planejado, apesar do
camping não ser o que eu imaginava.
Estacionei o carro e chegou a hora montar a
barraca. Aí a coisa começou a se complicar um pouco.
Começamos a montar a barraca por volta das
11:00hs, o sol estava sobre as nossas cabeças. Fazia 42 graus e a sensação térmica
era de 48. Só de levar as tralhas do carro até o local onde iria ficar a
barraca eu perdi uns dois litros de suor e bebi dois litros de Coca-Cola. O
calor estava insuportável.
Era a primeira vez que montava uma barraca e na
verdade não tem o menor segredo, ou melhor, tem sim! Falarei dele mais a frente.
Por ser a primeira vez, montamos tudo muito rápido,
e assim que terminamos fomos para a praia.
Fomos para o centrinho de Trindade, local que em
certos momentos parecia com os becos das favelas de São Paulo. O pessoal fuma
maconha na mesma proporção que os gaúchos bebem chimarrão, mas nada de
violência ou atitude hostil. Tudo mundo de boa!
Ficamos o tempo todo dentro da água, pois era
praticamente impossível ficar fora dela.
Quando o sol começou a se pôr voltamos para a
nossa barraca, estávamos ansiosos em passar a nossa primeira noite dormindo em
uma barraca.
Quando retornamos ao camping um grupo com três
casais de jovens havia montado uma barraca bem em frente a nossa, mas todos pareciam
ser gente boa.
Às 21:00hs a temperatura já estava mais agradável
e já estávamos dentro da barraca para um inesquecível noite de sono.
Inesquecível mesmo!
Às 22:00hs as luzes do camping foram apagadas, o
breu era total. Eu achei um pouco estranho, pois pensei que iríamos conseguir observar
o céu estrelado, mas logo entendi o porquê não enxergávamos as estrelas, a meia
noite em ponto um trovão rasgou o silêncio e um raio a escuridão arrancando um galho de
uma árvore a alguns metros da nossa barraca... O susto foi grande! Mas o pior
ainda estava por vir.
A primeira noite na barraca é estranha, tem o
barulho do vento nas árvores, sons de pássaros noturnos e neste camping especificamente
tinha o barulho do mar, que a essa altura já estava revolto.
Bom, logo começaram a cair os primeiros pingos de
chuva, mas em questão de minutos o que aconteceu foi algo conhecido como Tromba
D’água.
Os raios e trovões aconteciam com intervalos de
segundos uns dos outros, o vento era fortíssimo e arrancava os galhos das
árvores. O barulho do mar batendo nas rochas é algo que eu não tenho como
descrever.
O pessoal que estava na barraca em frente a nossa
correu não sei para onde, parecia que cada um tinha corrido para um lado.
Lembra-se do segredinho na hora de montar a
barraca? Vou falar dele agora.
No teto da barraca, bem no topo, existe uma fita
parecida com um cadarço que serve para amarrar as varetas que se cruzam sobre o
teto da barraca. Eu não dei a mínima para essa fita, achei que era frescura, só
que na hora do vento esse pequeno desleixo custou caro.
O vento começou a desmontar a barraca e começou
entrar água por todos os lados.
Eu sabia que estávamos correndo perigo devido à
quantidade de raios, e o lugar mais seguro para nós nos abrigarmos era dentro
do carro. Só que para chegarmos até o carro tínhamos que atravessar toda a
extensão do camping que era um terreno cheio de desnível, cheio de buracos,
árvores, plantas com espinhos, fios de alta tensão, encontrava-se totalmente no
breu e ainda por cima não conseguíamos encontrar a chave do carro, pois a
barraca havia desmontado.
Não tínhamos opção. Ficamos em cima dos colchões
de plástico, pois pensamos que ele poderia ser um isolante contra uma possível
descarga elétrica de um raio, mas até hoje não tenho certeza disso.
A tempestade durou até as 2:00hs da manhã. Depois
que tudo acalmou fomos arrumar os destroços da barraca e procurara a bendita
chave do carro.
Quando foi lá pelas 6:00hs da manhã é que sentimos
a falta do grupo de jovens. Para onde teriam ido eles?
Mal acabei de perguntar por eles para a minha
esposa, vimos a porta do banheiro se abrir. E lá de dentro saiam eles, as
meninas chorando, os rapazes fazendo piadinhas, mas estavam com cara de
assustados. Os seis passaram a noite dentro do banheirinho.
O dono do camping nos disse que em 30 anos nunca havia chovido daquela maneira, e pior, disse que atrás do camping existe uma cachoeira e um riacho e que ele temeu por uma inundação que arrastaria tudo do camping para o mar.
O dono do camping nos disse que em 30 anos nunca havia chovido daquela maneira, e pior, disse que atrás do camping existe uma cachoeira e um riacho e que ele temeu por uma inundação que arrastaria tudo do camping para o mar.
Todos nós desarmamos as nossas barracas e fomos embora.
Por causa desta chuva 30 pessoas morreram devido aos deslizamentos de terra na região de Angra dos Reis e Paraty -RJ.
Por causa desta chuva 30 pessoas morreram devido aos deslizamentos de terra na região de Angra dos Reis e Paraty -RJ.
O medo foi muito grande e eu pensei que nunca mais
iríamos acampar, mas um mês depois dessa terrível experiência em Trindade nós
já tínhamos comprado a nossa barraca, e o nosso segundo acampamento foi na
simpática cidade de Joanópolis - SP, a cidade do lobisomem e mais
especificamente na Cachoeira dos Pretos.